Além de diversão, “Turma da Mônica” oferece reflexão sobre o mundo em que vivemos
"Turma da Mônica" e o mundo que queremos
A Globo passou a exibir no sábado (17), às 9h50, o desenho animado da “Turma da Mônica”, criação de Mauricio de Sousa. Logo na estreia, os telespectadores da emissora poderão ver quatro episódios, sendo dois deles inéditos: “Os Milhos” e “A Vassoura”.
As outras duas animações programadas para este sábado (“Um Doente, sua Irmã e a Grande Competição de Cuspe à Distância” e “O Guarda-chuva Voador”) já foram exibidos pelo Cartoon Network. O canal pago exibe a “Turma da Mônica” desde 2004.
Criada em 1959, os quadrinhos da “Turma da Mônica” fazem sucesso até hoje entre crianças e adultos. Preservar uma infância que não existe mais é um dos segredos de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Franjinha e tantos outros personagens. Em uma época de crianças enclausuradas em condomínios e estressadas com rotinas estafantes graças a uma série de atividades extracurriculares, os personagens de Mauricio de Sousa servem como válvula de escape para o angustiante cotidiano contemporâneo.
A exibição da “Turma da Mônica” na TV aberta não é uma conquista de Mauricio de Sousa. Os personagens têm produtos licenciados em mais de 40 países, entre eles Estados Unidos, Itália, Indonésia e Espanha. O sucesso comercial já é uma realidade. A chegada da animação dos personagens mais famosos dos quadrinhos brasileiros oferece aos telespectadores, além de diversão, um momento de reflexão sobre o mundo em que vivemos.
Há quem veja na “Turma da Mônica” um mau exemplo para as crianças. A intolerante e irritante turma do politicamente correto critica a violência da Mônica, a gula de Magali, os erros de pronúncia de Cebolinha e a aversão ao banho de Cascão. Estes chatos encontram nos personagens exemplos de bullying, prática que da noite para o dia se tornou caso de saúde pública, sendo que isso sempre existiu e serviu até mesmo como rito de passagem para muitos.
De nada adianta colocar nossas crianças em redomas de vidro e falsas fortalezas que são facilmente corroídas pela violência e pelas drogas. Repare sempre na presença dos pais nas histórias da “Turma da Mônica”, seja com gestos de atenção e carinho, seja com punições e puxões de orelha quando necessários. Isso em nada lembra os pais contemporâneos, que negligenciam a educação de seus filhos para babás, escolas e dezenas de atividades extracurriculares que os privam da liberdade e do livre arbítrio.
Em vez de pega-pega, esconde-esconde, futebol, vôlei e outras atividades ao ar livre, as crianças vivem encarceradas em condomínios e shoppings. A turma da rua se foi. Certamente, alguns pais se defendem com o argumento da sociedade violenta. Pois se convivemos em um ambiente agressivo, onde predomina a competição selvagem e o egoísmo, somos nós os responsáveis por isso. Somos a geração anterior que entregou isso aos nossos filhos.
Agora, nos resta assistir às animações da “Turma da Mônica” como algo idílico e quase inalcançável, pois tomou de nossas crianças o direito de serem briguentas, comilonas, falar errado e fugir do banho eventualmente.